O Voo de Ícaro
(2020)
ONDE E QUANDO
Lisboa
Museu da Marioneta
7 e 8 de Novembro de 2020
(4 apresentações)
No labirinto de Creta, encontram-se um dia Ícaro e Ariadne.
Juntos, partilham o desejo de sair daquela ilha, para irem à descoberta do Mundo. Ícaro, almeja as asas que o farão voar, e Ariadne, com o seu novelo, vai povoando o labirinto, na promessa de que um dia a sua história se cumpra. No entanto, a presença do Minotauro, aguça-lhes a curiosidade. O desejo de conhecer esta figura, metade humana e metade animal, transforma-se no principal objectivo.
À procura da identidade do Minotauro, essa figura aprisionada, Ícaro e Ariadne redescobrem o próprio mito, redescobrem o significado da palavra “monstro” e redescobrem o valor da liberdade, fazendo-os adivinhar que liberdade pode significar uma viagem, não pelo mundo, mas pelos seus próprios pensamentos e conceitos.
FICHA TÉCNICA/ARTÍSTICA
Texto e Encenação: Nídia Roque
Dramaturgia: Guilherme Gomes, Nídia Roque
Interpretação: André Pardal, Bernardo Souto, Catarina Rôlo Salgueiro
Músico: Afonso Wallenstein
Voz-off: João Reixa
Cenografia: Filipa Camacho
Sonoplastia: André Mateus
Desenho de luz: Rui Seabra
Adereços: Alunos do 3º e 4º anos, da Escola de Pedro Nunes em conjunto com Serviço Educativo do Museu da Marioneta
Produção: Teatro da Cidade
Coprodução: Museu da Marioneta, Teatromosca
Apoio: Fundação GDA
Registo Fotográfico: Vitorino Coragem
Agradecimentos: Emajamaa. Salvador Sobral. Elsa Bruxelas. FPSolutios. Às professoras, Cecília de Jesus e Inês Vindeirinho, e aos seus incríveis alunos da Escola de Pedro Nunes. À Maria José, o meu mais profundo agradecimento por nos ter aberto as portas do Museu da Marioneta, e no qual nos sentimos tão bem acolhidos por esta equipa muito especial. Obrigada.
FOLHA DE SALA
O Vôo de Ícaro é o segundo espectáculo pensado para uma tetralogia de espectáculos para a infância que o Teatro da Cidade tem vindo a desenvolver desde 2018, e que tem como ponto de partida a obra literária Metamorfoses, do escritor romano, Ovídio.
Este projecto nasce da interrogação: Como se contam os mitos?
Quando pensei nas histórias da mitologia, como desafio de as transmitir às mais jovens gerações, pensava no entusiamo e na beleza que essas histórias contêm em si mesmas.
Com o tempo descobri outra coisa: Não eram as histórias que mais me entusiasmavam, mas a sua reinvenção. Poder recontá-las sob um novo ponto de vista. Acima de tudo fui descobrindo como é que estes mitos me afectavam, como é que dialogavam com o tempo em que vivo agora, e como é que abordavam determinados conceitos que me são caros.
Tanto as mais belas como as mais horríveis histórias da humanidade, estão experienciadas, e são-nos transmitidas. Narradas ou lidas sob um determinado ponto de vista, é certo, mas que ainda assim, são acontecimentos, que em nada se podem alterar. Pelo contrário, nas histórias de ficção, porque acontecem algures na nossa imaginação, somos nelas participantes activos. Podemos encontrar caminhos diferentes, podemos aceitar ou discordar dos percursos.
Há, por isso, uma consequência comum que a realidade e a ficção nos podem trazer: a de podermos reflectir. Reflectir na tentativa de concretizar. Alterar. Transformar. Fazer de novo. Fazer diferente. Sem que nisso haja uma hierarquia moral. Tentar apenas mudar o que achamos mais justo para nós em determinado momento da nossa vida, e da nossa história enquanto colectivo.
O exercício que me retorna este espectáculo, é por isso um exercício de imaginação: “E SE?” E se tivesses um par de asas? E se acontecesse de outra maneira? E se pudermos olhar para a História, ou para as histórias, como exercício de não repetição. O de travar o ciclo sucessivo de acontecimentos esperados? Esperados ou já vivenciados? Se pensássemos o inimaginável?
O que aconteceu antes de nós, importa. O que aconteceu ontem, importa. Numa tentativa de nos questionarmos e abrirmos as portas para imaginar outros percursos, outras narrativas.
Não basta conhecer a história. Recoloquemo-la numa perspectiva de futuro, de questionamento. Talvez se nos pusermos no lugar do outro seja mais interessante e mais fácil. E talvez isso seja um princípio para que as narrativas não se repitam com personagens diferentes.
Foi com este pressuposto que comecei a imaginar este espectáculo.
A partir dos mitos sobre o Ícaro, o Minotauro, e a Ariadne, foram surgindo os conceitos de aprisionamento, liberdade, sonho, diferença, empatia. O aprisionamento é o elemento comum destas personagens, a liberdade o desejo individual de cada uma. No seio destes conflitos, há uma personagem, que mais que as outras, é vítima do próprio conceito que a história, o escritor, e os outros, inventaram para si – a de ser um monstro. A empatia surge por isso como alavanca para que o Ícaro e a Ariadne se ponham no lugar do outro. A empatia abre-lhes as portas para conhecerem esta figura, metade humana e metade animal, e dá-lhes a possibilidade de fazerem nascer uma nova biografia sobre si mesmos. Apesar de tudo, o Minotauro é, em cada um de nós, e para cada um de nós, uma questão de perspectiva.
Como espelho, a ficção retorna-nos a vida. E talvez possa ser esse o lugar do teatro, apesar de tudo, um lugar seguro para pensar.
Convido-vos a imaginarem connosco este espectáculo, e a levantarem voo por uns momentos.